Deep Purple é uma
banda de rock inglesa formada em Hertford, Hertfordshire, em 1968.
Juntamente com as
bandas Black Sabbath e Led Zeppelin, o Deep Purple é considerado um dos
pioneiros do heavy metal e do hard rock moderno, embora alguns de seus
integrantes tenham tentado não se categorizar como apenas um destes gêneros. A
banda também incorporou elementos de música clássica, blues-rock, pop e rock
progressivo. Foram listados pelo Livro Guiness dos Recordes "como a banda
com o som mais alto ao vivo no mundo", e venderam mais de 100 milhões de
álbuns ao redor do mundo.
A banda passou por
diversas mudanças de formação, além de um hiato de oito anos (1976-84). As
formações do período 1968-76 foram comumente chamadas de Mark I, II, III e IV.
Sua segunda formação, a mais bem-sucedida comercialmente, contou com Ian Gillan
(vocal), Ritchie Blackmore (guitarra), Jon Lord (teclado), Roger Glover (baixo)
e Ian Paice (bateria). Esta formação esteve em atividade de 1969 a 1973, e foi
reunida de 1984 a 1989 e, brevemente, em 1993, antes que os atritos entre o
guitarrista Ritchie Blackmore e os outros membros da banda se tornassem
intransponíveis.
A formação atual
inclui o guitarrista Steve Morse (ex-Kansas, ex-Dixie Dregs), que entrou para
banda em 1994. Com o afastamento de Jon Lord, em 2002, o Deep Purple conta
apenas com o baterista Ian Paice como integrante original.
A marca da banda
sempre foi a mistura de guitarra e teclado, com riffs simples e fortes e solos
vigorosos. Sua canção mais conhecida é Smoke on the Water, gravada em dezembro
de 1971.
História
O início
O Deep Purple
surgiu de uma idéia exótica. No país que gerou The Beatles, Rolling Stones e
Eric Clapton, todos esperavam pela próxima grande idéia no campo fértil do
rock. Em 1967, Chris Curtis, ex-baterista do The Searchers, teve a idéia
exótica de reunir vários músicos muito talentosos num grupo chamado Roundabout
(carrossel). Eles se revezariam em torno do baterista, como num carrossel.
Depois que a idéia foi comprada pelo produtor Tony Edwards, o primeiro músico a
topar a idéia foi o tecladista Jon Lord, colega de Curtis nos The Flowerpot
Men, onde também tocava o baixista Nick Simper.
Era o final dos
anos 60, e Curtis estava metido até o pescoço no espírito da época. Certa vez,
Lord entrou no apartamento e encontrou as paredes cobertas de papel alumínio.
Seu colega havia redecorado a casa para mudar o astral. Liga, desliga, cai na
estrada: Curtis desapareceu. O grupo achou um guitarrista - Ritchie Blackmore,
conhecia um baterista - Ian Paice - que trouxe um colega da The Maze - o
vocalista Rod Evans. Com a saída de Curtis, acabou a ideia do rodízio e a banda
precisava trocar de nome. Em fevereiro de 1968, depois de queimar pestana em
uma lista de nomes que incluía o pomposo Orpheus, acabou vencendo o título da
música favorita da avó de Blackmore: Deep Purple.
Todas as formações
do Deep Purple
Fase I "MK
I"
(1968-1969) • Rod
Evans - vocais
• Ritchie
Blackmore - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Nick Simper - baixo
• Ian Paice - bateria
Fase II "MK
II"
(1969-1973) • Ian Gillan - vocais
• Ritchie
Blackmore - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Roger
Glover - baixo
• Ian Paice - bateria
Fase III "MK
III"
(1973-1975) • David Coverdale - vocais
• Ritchie
Blackmore - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Glenn
Hughes - baixo,vocais
• Ian
Paice - bateria
Fase IV "MK
IV"
(1975-1976) • David
Coverdale - vocais
• Tommy
Bolin - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Glenn Hughes - baixo,vocais
• Ian Paice - bateria
(1976-1984) O grupo esteve separado.
Fase II "MK
II", reunião
(1984-1989) • Ian
Gillan - vocais
• Ritchie
Blackmore - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Roger
Glover - baixo
• Ian
Paice - bateria
Fase V "MK
V"
(1989-1991) • Joe
Lynn Turner - vocais
• Ritchie
Blackmore - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Roger
Glover - baixo
• Ian
Paice - bateria
Fase II "MK
II", nova reunião
(1992-1994) • Ian Gillan - vocais
• Ritchie
Blackmore - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Roger
Glover - baixo
• Ian Paice - bateria
Fase VI "MK
VI"
(alguns meses em
1994) • Ian Gillan - vocais
• Joe Satriani - guitarra
• Jon Lord - teclado
• Roger Glover - baixo
• Ian Paice - bateria
Fase VII "MK
VII"
(1994-2002) • Ian
Gillan - vocais
• Steve Morse - guitarra
• Jon
Lord - teclado
• Roger
Glover - baixo
• Ian Paice - bateria
Fase VIII "MK
VIII"
(2002-atualmente) • Ian
Gillan - vocais
• Steve Morse - guitarra
• Don
Airey - teclado
• Roger
Glover - baixo
• Ian Paice - bateria
O primeiro disco,
Shades of Deep Purple, foi lançado em setembro de 1968. Recheado de regravações
(incluindo versões progressivas de Help, dos Beatles, e Hey Joe, de Jimi
Hendrix), o disco estourou nas paradas de sucesso dos EUA com uma música de Joe
South: Hush, o primeiro single da banda. Em dezembro daquele ano, quando o
segundo disco (The Book of Taliesyn) já havia sido lançado, eles fizeram sua
primeira turnê na América, acompanhando o Cream. Nessa turnê, além de visitar a
mansão de Hugh Hefner, criador da revista Playboy, o grupo também descobriu que
outro motivo de seu sucesso no Novo Mundo vinha do nome da banda - o mesmo de
uma droga então muito popular na Califórnia. O segundo disco também trazia
regravações, como River Deep, Mountain High (sucesso na voz de Tina Turner), We
Can Work it Out (Beatles) e Kentucky Woman (Neil Diamond). A composição Wring
That Neck (chamada de Hard Road nos Estados Unidos, pela violência do nome)
sobreviveu, no setlist do grupo, à extinção da primeira formação no ano
seguinte. Foi o veículo de algumas das mais inspiradas trocas de solos entre
Blackmore e Lord.
Em 1969, Blackmore
e Lord estavam descontentes com a sonoridade do grupo. Ambos queriam
experimentar mais com volume e eletricidade, mas consideravam que a voz de
Evans não acompanharia as mudanças. O terceiro disco do grupo, chamado Deep
Purple, reflete a tensão de uma banda que tinha os pés no rock inglês dos anos
60 e a cabeça em algo que ainda estava por ser criado. Sob convite do baterista
Mick Underwood, em 24 de junho, Blackmore e Lord foram conferir uma
apresentação do grupo Episode Six, de cujo vocalista (Ian Gillan) o ex-colega
de Blackmore havia falado muito bem. Os dois membros do Deep Purple chegaram a
subir ao palco para uma jam. Começou aí o mês mais tenso e criativamente
decisivo em toda a carreira do Deep Purple.
Blackmore, Lord e
Paice combinaram um teste com Ian Gillan. Ele levou seu amigo Roger Glover,
baixista também do Episode Six. Juntos, os cinco gravaram o single Hallellujah,
no dia 7 de junho. Aprovados os dois, o Deep Purple passou a ter vida dupla.
Durante o dia, a segunda formação (Fase II) ensaiava no Hanwell Community
Centre; à noite, a primeira (Fase I) continuava se apresentando como se nada
estivesse ocorrendo. Evans e Simper não sabiam o que estava por acontecer até a
véspera da estreia da Fase II nos palcos, em 10 de julho. A situação era tão
maluca que, em 10 de junho de 1969, Episode Six e Deep Purple se apresentaram
em bailes de Cambridge. O Deep Purple fez 11 apresentações entre a escolha dos
novos membros e a estréia da nova fase; o Episode Six, oito. Mas Gillan e
Glover ainda fizeram outros quatro shows para cumprir contrato com o E6 até o
dia 26 de julho, intercalando com os três primeiros shows da Fase II.
Os projetos que já
vinham ocorrendo, porém, continuaram. O terceiro disco tinha acabado de ser
lançado na Inglaterra quando a nova formação, com sua proposta sonora mais
ousada, estreou. Jon Lord também estava finalizando seu Concerto for Group
& Orchestra, que seria apresentado no Royal Albert Hall, com a Royal
Philharmonic Orchestra, no dia 24 de setembro. Nesse dia, além de mostrarem o
novo tipo de composição idealizado por Lord (unindo as linguagens da música
erudita e do rock), os ingleses de todas as classes sociais conheceram Child in
Time, composta ainda em Hanwell. A composição mostra tudo o que a nova formação
trazia de novo em relação à anterior: mudanças de ritmo, solos poderosos,
gritos de banshee. O novo Deep Purple era elétrico e explosivo, e isso ficaria
muito claro no primeiro disco da nova formação - In Rock, lançado em abril de
1970. Os ingleses puderam conhecer faixa por faixa do novo disco via BBC
durante os vários meses que levaram ao lançamento. Conheceram inclusive faixas
inéditas, como Jam Stew, e uma versão primitiva de Speed King chamada Kneel and
Pray, com uma letra completamente diferente e muito mais maliciosa do que a
conhecida e cantada até hoje.
O segundo disco da
Fase II foi Fireball, que mantém a eletricidade mas envereda por um caminho
mais experimental. Até um country ("Anyone's Daughter") o disco
inclui, ao lado de longos instrumentais como os de "Fools" e rocks
mais próximos dos que havia no disco anterior, como "Strange Kind of
Woman". Os shows da turnê de 1971, disponíveis apenas em gravações
piratas, mostram uma banda mais madura e mais ousada. É nessa turnê que Ian
Gillan começa a fazer duelos de sua voz com a guitarra de Blackmore, por
exemplo.
Conquistando o
mundo
O passo seguinte
na experimentação do Deep Purple seria gravar um disco de estúdio feito nas
mesmas condições de uma apresentação ao vivo. Todos juntos, num mesmo ambiente,
criando e gravando juntos como nas longas jams instrumentais que eles faziam no
palco. Eles já tinham algumas músicas quase prontas: "Highway Star"
começou a ser criada dentro de um ônibus, quando um jornalista perguntou como
eles criavam suas músicas. Blackmore disse: "assim", e começou a
tocar um riff agitado. Gillan entrou na farra e começou a improvisar
uma letra: "We're on the road, we're on the road, we're a rock'n'roll
ba-and!". Em
setembro, a primeira versão do que seria Highway Star já estava começando a ser
experimentada no palco e no programa de TV alemão Beat Club. É dessa
apresentação que vem o clipe de Highway Star em que Blackmore usa um chapéu de
bruxo e Gillan balbucia palavras sobre Mickey Mouse e Steve McQuinn.
"Lazy" é outra canção que começou a ser testada no palco antes de ir
para o estúdio.
Em dezembro de
1971, eles haviam achado o local certo para criar e gravar esse disco:
Montreux, na Suíça, onde até hoje ocorre um famoso festival de jazz. O melhor
lugar para gravar seria o grande cassino da cidade, onde tradicionalmente havia
apresentações musicais. O cassino ainda não estava liberado para o Deep Purple
quando eles chegaram - faltava uma última apresentação, de Frank Zappa, para
encerrar a temporada. O grupo, então, foi assistir ao show. Zappa sempre foi um
inovador do rock, e naquela apresentação em especial ele usava um sintetizador
de última geração. No meio do show, alguém põe fogo no cassino. A música pára.
Zappa grita: "FOGO! Arthur Brown, em pessoa!" e orienta os presentes
a deixar o cassino calmamente. Em entrevistas, Roger Glover conta que todos
realmente estavam calmos - o suficiente para que ele próprio ainda pudesse dar
uma olhada no sintetizador antes de sair do prédio. Enquanto isso, Claude Nobs,
que até hoje organiza o Festival de Jazz de Montreux, corria de um lado para o
outro para tirar alguns espectadores de dentro do cassino.
O grupo foi
transferido para o Grande Hotel de Montreux. No inverno, ele estava vazio, era
frio e todos os móveis estavam guardados. Eles estacionaram do lado de fora a
unidade móvel de gravação dos Rolling Stones, puxaram alguns fios, instalaram
confortavelmente seus instrumentos nos corredores do hotel e começaram a
ensaiar. O resultado é que até hoje todos os shows do Deep Purple contêm ao
menos quatro das sete músicas do disco Machine Head, lançado em 1972.
A história inteira
da gravação é contada em poucas palavras na música "Smoke on the
Water", a última a ser gravada no disco. Blackmore havia criado um riff
que não fora usado, apelidado então de "durrh-durrh". Não havia
letra. Então veio a ideia de escrever sobre o que acontecera na gravação do
disco. Gillan afirma que eles estavam num bar quando Roger Glover escreveu num
guardanapo o título da música (que significava "fumaça sobre a água",
uma boa descrição da fotografia que um jornal publicou no dia seguinte ao
incêndio). Glover diz que a expressão lhe surgiu em um sonho e que Gillan lhe
respondeu: "não vai rolar; parece nome de música sobre drogas, mas nós
somos uma banda que bebe". Nenhum deles apostava que passaria mais de 30
anos tocando "durrh-durrh" toda noite, tamanho o sucesso que a música
alcançou. Apesar de ter sido gravada em dezembro, ela só entrou no setlist em 9
de março, num show na BBC. Essa primeira apresentação consta de In Concert
1970-1972.
O ano de 1972 é
movimentadíssimo, e nele o Deep Purple chegou pela primeira vez ao Japão, onde
foi gravado seu mais famoso disco ao vivo, Made in Japan. Na Itália, o grupo
também preparava a gravação de Who Do We Think We Are. O ritmo de trabalho da
banda, porém, custou caro a eles. Por diversas vezes, membros do grupo ficaram
doentes. O guitarrista Randy California chegou a substituir Blackmore em um
show, e Roger Glover substituiu Gillan em outro. Os relacionamentos entre os
membros - e especialmente entre Gillan e Blackmore - também não iam bem. Em
dezembro, Gillan entregou seu pedido de demissão, avisando que deixaria o grupo
no final de junho de 1973, dando aos empresários e aos colegas seis meses para
decidir o que fazer do grupo.
Tempo de mudanças
Em 29 de junho de
1973, na segunda viagem do grupo ao Japão e após um show impecável, em que Jon
Lord incluiu o "Parabéns a Você" para Paice em seu solo de teclado
(era o aniversário do baterista), Ian Gillan volta ao palco e avisa que seria o
último show do Deep Purple com aquela formação. Durante o show, não havia
nenhum outro sinal de desgaste. Em retrospecto, o silêncio de Gillan na hora de
cantar o verso "no matter what we get out of this" ("não importa
o que possamos tirar disso") em "Smoke on the Water" podia
indicar que tudo o que ele poderia tirar daquilo já havia acabado. Glover
também deixou o grupo, passando a se dedicar à produção, no departamento
artístico da Purple Records - a gravadora do grupo.
O primeiro novo
integrante recrutado para o Deep Purple, logo após o fim da Fase II, foi o
baixista Glenn Hughes, que cantava e tocava baixo no grupo Trapeze. A dupla
habilidade empolgou Blackmore e Lord, mas ele não seria deixado sozinho nos
vocais. O plano do Deep Purple era buscar a voz de Paul Rodgers (ex-Free,
ex-Bad Company). Após um primeiro contato, ele pediu um tempo para pensar e
decidiu continuar com sua banda na época, o então Free. Enquanto seguia a busca
pelo novo vocalista, Blackmore e Hughes iam se conhecendo e tocando juntos. O
que se tornaria o blues "Mistreated", sem a letra, foi composto nessa
época.
A hipótese de
tocar o grupo com apenas quatro membros foi cogitada, mas a idéia de ter dois
vocalistas falou mais alto. Com essa idéia nas ruas, os empresários do Deep
Purple não paravam de receber fitas de novos artistas. Uma delas fora enviada
por um rapaz de 21 anos, gordinho e cheio de espinhas, que cantava desde os 15
anos e ganhava a vida vendendo roupas da moda numa boutique: David Coverdale.
Sua banda e o Deep Purple já haviam cruzado caminhos em novembro de 1969, num
show na universidade de Bradford, quando Gillan e Glover haviam acabado de
entrar para o Deep Purple. O teste de Coverdale ocorreu em agosto de 1973.
Durante seis horas, eles tocaram material do Deep Purple e rocks mais conhecidos,
como "Long Tall Sally" e "Yesterday". Quando Coverdale foi
para casa, o restante do Deep Purple saiu para beber e decidiu: era o gordinho
mesmo (nos meses seguintes, os empresários da banda lhe dariam alguns remédios
para afinar a aparência).
Em 9 de setembro,
o novo grupo se trancou por duas semanas no Castelo de Clearwell para compôr.
Empolgadíssimo, Coverdale - cuja experiência de palco era apenas com a gravação
de demos - escreveu quatro letras diferentes para a música que seria "Burn".
Uma delas se chamava "The Road". No dia 23, um dia depois de
Coverdale completar 22 anos, a Fase III foi apresentada à imprensa inglesa. Em
novembro, foi gravado o disco Burn, novamente em Montreux, com a mesma unidade
móvel dos Rolling Stones com que foi gravado Machine Head. A nova equipe
estrearia no palco em 8 de dezembro, na Dinamarca. Era a estréia da Fase III do
Deep Purple. O disco só sairia em 1974.
O som da nova
formação era marcado pela maior velocidade e técnica de Blackmore na guitarra e
pela tensão entre os dois cantores. No estúdio, os duetos eram perfeitos. No
palco, Hughes punha a trabalhar toda a potência de seus pulmões sempre que
podia, muitas vezes chegando a intimidar Coverdale. O baixista e cantor também
acrescentou à receita do Deep Purple uma boa pitada de tempero funky - que
Blackmore aceitou inicialmente a contragosto, por entender que apesar de este
estilo estar nas paradas de sucesso da época, não fazia parte, até então, dos
elementos constitutivos do som do Deep Purple.
Em 6 de abril de
1974, o grupo se apresentou na Califórnia, EUA, para uma platéia de 200 mil
pessoas - era o festival California Jam, que duraria 12 horas e seria liderado
pelo Deep Purple. O show, e particularmente o mau humor de Blackmore com o fato
de ter de começar a tocar antes do anoitecer com câmeras em cima do palco,
ficou famoso por ser explosivo: o guitarrista destruiu uma câmera em
funcionamento com sua guitarra e, não contente, explodiu um amplificador. A
silhueta do guitarrista em frente às chamas do amplificador é uma das cenas
mais poderosas de toda a iconografia do rock. Trinta anos depois, Josh White,
diretor de filmagens do evento, lembrou de como ele pode tê-lo induzido a isso:
A terceira
formação do Deep Purple acabaria um ano depois de California Jam, em 7 de abril
de 1975, uma semana antes de Blackmore completar 30 anos de idade. Era a turnê
de lançamento do disco Stormbringer na Europa. Com ainda mais balanço funk, o
disco desagradou bastante a Blackmore. Ele já tinha algumas idéias na cabeça, e
ao sair já tinha uma nova banda formada: o Rainbow. Restava ao grupo o dilema
entre continuar sem Blackmore - o criador de todos os riffs que tornaram o Deep
Purple famoso - ou partir para outra, aproveitando que o grupo era um dos mais
lucrativos de toda a história do rock.
Decidiram
continuar, convidando o guitarrista Tommy Bolin, o primeiro norte-americano a
fazer parte do grupo. Com essa formação (Fase IV), gravam o disco Come Taste
the Band, ainda mais suingado. A turnê é complicada, um tanto devido aos problemas
de Bolin e Hughes com drogas. Em vários shows, como o registrado em Last
Concert in Japan, Bolin não conseguia tocar porque seu braço estava anestesiado
de drogas. Garotos talentosos, de vinte e poucos anos, ao entrar em uma máquina
de fazer dinheiro na indústria do entretenimento, correm o sério risco de
perderem o senso de proporção. Foi o que ocorreu na época.
Bolin tinha dois
agravantes: insegurança e baixa auto-estima. Tudo isso apesar de ter gravado
belíssimos discos solo, ser considerado um gênio da guitarra e ter tocado com
magos do jazz como o baterista Billy Cobham. Bolin não suportava ser comparado
pelos fãs aos carismáticos antecessores que teve em grandes grupos de rock. O
Deep Purple era a segunda vez em que ele substituía um grande guitarrista -
anteriormente, havia tocado na James Gang. No Deep Purple, ele chegou a
discutir com a platéia por algumas vezes, durante apresentações.
O fim
Ao final do show
de 15 de março de 1976, em Liverpool, David Coverdale desabafa com Lord: não
havia mais clima para continuar com o Deep Purple. Lord desabafa de volta: não
havia mais um Deep Purple para continuar. Acabou assim, em clima de
confidência, a banda criada oito anos antes e que chegou a figurar no Guinness
dos recordes como a mais barulhenta do mundo. Oito meses depois, Bolin morreria
de overdose no Resort Hotel de Miami, após uma apresentação. E durante oito
anos o Deep Purple permaneceria fora do ar.
Nesse período, os
membros da banda fariam suas próprias carreiras e plantariam as bases para os
futuros desenvolvimentos do Deep Purple. Por ordem de saída:
Ian Gillan -
Depois de um breve período de reclusão em que vendeu motos e tentou ter um
hotel, foi resgatado para os palcos por Roger Glover e sentiu-se animado o
suficiente para criar sua própria banda, a Ian Gillan Band. Numa espécie de
jazz-rock, seguiu até o início dos anos 80. Em 1982, dissolveu a banda, para no
ano seguinte gravar um disco com o Black Sabbath: Born Again.
Roger Glover -
Inicialmente, permaneceu próximo à Purple Records e foi quem mais teve contato
com todos os galhos da gigantesca árvore genealógica do Deep Purple. Dois anos
depois, conseguiu juntar no mesmo palco os melhores músicos da Inglaterra
(muitos deles membros ou ex-membros do Deep Purple, ou seus colegas em outras
bandas), no musical Butterfly Ball. Foi a primeira aparição pública de Ian
Gillan após o fim do Deep Purple, substituindo Ronnie James Dio (que cantava no
Rainbow de Blackmore e passaria depois pelo Black Sabbath). Produziu outras
bandas, gravou dois discos solo e voltou a tocar baixo no Rainbow de Blackmore.
Ritchie Blackmore
- Com o Rainbow, teve uma das bandas de hard rock de maior sucesso do final dos
anos 70 e início dos anos 80, apontando o holofote para músicos como Joe Lynn
Turner e Don Airey, que anos mais tarde participariam do Deep Purple. Roger
Glover chegou a tocar com ele.
David Coverdale -
Após dois discos solo, formou o Whitesnake e invadiu as paradas de FM dos anos
80. Na banda, tocou com Jon Lord e Ian Paice. De quando em quando, reúne o
Whitesnake para turnês.
Jon Lord - Teve
uma carreira solo interessante, misturando suas várias influências musicais
(clássico, rock e jazz). Compôs trilhas sonoras de filmes com Tony Ashton e os
dois se juntaram a Paice para o projeto Paice, Ashton e Lord. Mais tarde,
uniu-se a Coverdale no Whitesnake. Depois de lutar contra um câncer, Lord veio
a falecer em 16 de Julho de 2012.
Ian Paice - Tocou
com diversos músicos, inclusive com Gary Moore, além de Paice, Ashton e Lord e
Whitesnake.
Glenn Hughes -
Reuniu o Trapeze, gravou vários discos solo, tocou com Gary Moore e Pat Thrall,
lutou consigo mesmo para se livrar das drogas, cantou no Black Sabbath e mais
recentemente gravou dois discos com o também ex-Deep Purple Joe Lynn Turner: o
Hughes-Turner Project (HTP).
O recomeço
Em 1984, é
anunciada a volta do Deep Purple com a sua formação de maior sucesso (Fase II),
com Gillan, Blackmore, Paice, Glover e Lord. É lançado o primeiro disco de
inéditas desde 1975, chamado Perfect Strangers, que foi seguido por The House
of Blue Light, de 1987. Das turnes destes dois discos, sai o ao vivo Nobody's
Perfect, lançado em 1988. Em 1989, Gillan decide sair novamente da banda, e em
seu lugar entra o vocalista Joe Lynn Turner, (ex-Rainbow). Com esta nova
formação, a banda saiu em uma bem-sucedida turnê que foi muito bem elogiada
pelos fãs. Embora o novo álbum com Turner, Slaves and Masters, tenha sido
comercialmente fraco, a sua turnê não foi. Os shows foram marcados por
performances impecavéis da banda e pela excelente presença de palco do
vocalista Joe Lynn Turner. Vale lembrar que nessa turnê, o Deep Purple veio ao
Brasil pela primeira vez. O set-list continha clássicos da época de Coverdale,
e muitos que a banda não tocava há algum tempo.
A banda termina a
turnê no fim de 1991, e em abril de 1992, começa a gravar o que se tornaria o
álbum The Battle Rages On.... Este álbum foi inicialmente gravado e escrito com
Joe Lynn Turner ainda na banda, mas no meio de setembro de 1992, Joe é
despedido do grupo e em seu lugar entra novamente Ian Gillan, que termina o que
restou do The Battle Rages On..., regravando-o com sua voz. "The Battle
Rages On..." foi lançado em 1993.
Em dezembro de
1993, após a saída de Ritchie Blackmore devido a conflitos constantes sobre o
estilo musical a ser seguido, o guitar-hero Joe Satriani foi convidado a
integrar a banda e juntou-se ao Purple para participar da turnê internacional
pelo Japão. Com o sucesso dos shows, Satriani foi convidado pelos demais
integrantes para permanecer como membro efetivo dela, mas declinou, mais
preocupado com sua carreira solo e com o contrato para um álbum assinado com a
Sony. Antes disso, entretanto, ainda chegou a participar da turnê européia como
guitarrista da banda em 1994, fazendo seu último show com a banda em julho, na
Áustria. Após este concerto, Satriani deixou o Purple e cedeu o lugar para o
guitarrista Steve Morse, que já havia integrado as bandas Dixie Dregs e Kansas.
Steve Morse é o guitarrista do Deep Purple até os dias de hoje.
A banda se
revitaliza e volta com o bom Purpendicular, de 1996, trazendo novos elementos,
porém valorizando os desafios entre guitarras e órgão que fizeram a base
musical do estilo do Deep Purple. Segue o razoável Abandon em 1998. Em 2002, o
tecladista Jon Lord decide abandonar a estrada, e em seu lugar entra Don Airey,
um tecladista que passou por diversas bandas de hard rock, entre elas, o
Rainbow, de Ritchie Blackmore e o Whitesnake, de David Coverdale, além de Ozzy
Osbourne. Com Airey, Gillan, Morse, Glover e Paice são lançados os discos
Bananas, em 2003, e Rapture of the Deep, em 2005.
Em 2012, o Deep
Purple anunciou que vai entrar em processo de produção de um novo disco de
estúdio, o primeiro desde 2005.
Em 16 de julho de
2012, o tecladista Jon Lord falece. Ele lutava há quase um ano contra um cãncer
no pâncreas. Vários músicos de renome expressaram sua tristeza acerca do
ocorrido, tais como Geezer Butler, David Coverdale, Lars Ulrich, Tony Iommi,
Mike Portnoy, Axl Rose, Slash, Bill Ward, Jordan Rudes, além de sua antiga
banda, o próprio Deep Purple.
O melhor riff da
história do rock
Em abril de 2008,
os alunos da London Tech Music School, uma das mais conceituadas escolas de
música da Grã-Bretanha e de onde saíram integrantes de bandas como o Radiohead,
The Kinks e The Cure, elegeram o clássico "Smoke on the Water", um
dos maiores sucessos da banda, como o maior riff de todos os tempos na história
do rock, na frente de outros clássicos como "Whole Lotta Love" do Led
Zeppelin, "Smells Like Teen Spirit" do Nirvana, "My
Generation" do The Who, "Born To Be Wild" do Steppenwolf e Iron
Man do Black Sabbath.
Discografia de
estúdio
O Deep Purple já
lançou 18 álbuns de estúdio desde 1968. Eles vêm sendo gradualmente relançados
em versão remasterizada, com faixas extras.
• Shades
of Deep Purple (1968)
• The
Book of Taliesyn (1968)
• Deep
Purple (1969)
• In
Rock (1970)
• Fireball
(1971)
• Machine
Head (1972)
• Who
Do We Think We Are (1973)
• Burn
(1974)
• Stormbringer
(1974)
• Come
Taste the Band (1975)
• Perfect
Strangers (1984)
• The
House of Blue Light (1987)
• Slaves
and Masters (1990)
• The
Battle Rages On... (1993)
• Purpendicular
(1996)
• Abandon
(1998)
• Bananas
(2003)
• Rapture
of the Deep (2005)
Discografia ao
vivo
Especialmente
depois do sucesso de Made in Japan, e mais recentemente com o lançamento
oficial pela Purple Records de diversas gravações anteriormente disponíveis em
bootlegs, o Deep Purple é um dos conjuntos de rock que mais lançou discos ao
vivo. Confira:
• Fase
I
o Inglewood
- Live at the Forum, 1968 (2004)
• Fase
IIa
o Kneel
and Pray - Live in Montreux 69 (2004)
o Concerto for Group and Orchestra (Ao
vivo), Dezembro, 1969 (Remaster em 2003)
o Scandinavian Nights, 1970 (lançado em
1988)
o Gemini Suite Live, 1970 (lançado em
1998)
o Live in Aachen 1970 (a ser lançado em
2006)
o In Concert 70-72, 1970 e 1972,
Dezembro, 1980;
o Made in Japan (Ao vivo), Dezembro,
1972 (Remaster em 1999, lançado no Brasil)
o Live in Japan (caixa com 3 CDs com os
shows originais de Made in Japan), 1993
o Live
in Denmark 72 (2005)
o Turn
Around, Live Long Beach Arena, 1971
o Mk
II: Final Truckin', Live Osaka, 1973
• Fase III
o Live in London (Ao vivo em 1974),
Setembro, 1982.(Remaster em 2007)
o California
Jamming: Live at the California Jam, 1974 (lançado em 1996)
o Perks
& Tit - Live in San Diego 1974
o Just
Might Take Your Life (mesma coisa que Cal Jam)
o Made
in Europe, 1975
o Mk III: The Final Concerts, 1975 =
Archive Alive (lançado em 1996)
o Live
In Paris 1975 (2004)
• Fase
IV
o Days
May Come and Days May Go (2000), ensaios de Tommy Bolin no Deep Purple
o 1420
Beachwood Drive (2000), ensaios de Tommy Bolin no Deep Purple
o Last
Concert in Japan, Novembro, 1976
o On
the Wings of a Russian Foxbat = King Biscuit Flower Hour, 1975 (lançado em
1995)
o Power
House, 1977
o This
Time Around: Live in Tokyo, 1975 (lançado em 2001)
• Fase IIb
o Nobody's Perfect (Ao vivo), Julho,
1988
o In
The Absence of Pink: Knebworth 85, 1985 (lançado em 1991)
o Third Night, Ao Vivo na Suíça 1985
• Fase
IIc
o Come
Hell or High Water, 1993, (lançado em 1994)
o Live In Europe 1993, 1993 (caixa com 4
CDs - lançada em março de 2006)
• Fase VII
o Live at the Olympia '96, 1996 (lançado
em 1997)
o Total
Abandon: Live in Australia, 1999
o In
Concert with the London Symphony Orchestra, 1999
o Live
At The Rotterdam Ahoy, Purple Harbour, 1996
o The
Soundboard Series (12CD Box)
Compilações
• 24 Carat Purple, Julho, 1975
• Singles A's & B's, 1978 (contém
uma versão editada de "April", do disco Deep Purple)
• The
Mark II Purple Singles, Abril, 1979
• Deepest Purple, Julho, 1980
• New Singles A's & B's, 1993
(contém "Hallellujah", primeira música gravada com Gillan e Glover e
que não consta de nenhum disco de estúdio, e a versão original de
"Coronarias Redig", canção que não consta de discos de estúdio e no
remaster de Burn aparece remixada)
• Knocking at your Back Door: The Best
of Deep Purple in the 80s, 1992 (contém "Son of Aleric", jam gravada
na época de Perfect Strangers mas que não entrou no disco lançado no Brasil)
• 30: Very Best of Deep Purple, Outubro,
1998 (é a coletânea mais abrangente disponível para quem quer conhecer um
panorama do que o Deep Purple já fez; "Highway Star" está na versão
do remaster)
• The Early Years, 2004 (contém várias
versões alternativas e remixadas de músicas da Mk1)
• Smoke
On The Water, The Best Of, 1994
Videografia oficial ao vivo
• Concerto
for Group and Orchestra (Londres, 24.set.1969)
• Masters
from the Vaults/Doing Their Thing (Londres, 14.jul.1970)
• Live
in Concert 72-73/Machine Head Live/Scandinavian Nights (Copenhague, 1.mar.1972)
• Live
in Concert 72-73 (Nova York, 30.mai.1973)
• Live
in California 74/California Jam (Ontario Speedway, 6.abr.1974)
• Live
in Seoul (Seul, 18.mar.1995)
• Bombay
Calling/Live in Bombay 1995 (Bombaim, 8.abr.1995)
• Live
at Montreux 1996 (Montreux, 9.jul.1996)
• Total
Abandon (Melbourne, 20.abr.1999)
• In
Concert with the London Symphony Orchestra (Londres, 25 e 26.set.1999)
• Live
at Montreux 1996 (Montreux, jul.2000)
• Perihelion
(Flórida, 5.jun.2001)
• Live
in Hard Rock Cafe (Hard Rock Café, Londres, out.2005)
• Live
at Montreux 2006 (Montreux, jul.2006)
Videografia
oficial de estúdio, documentários e participações
• Butterfly
Ball and the Grasshopper's Feast (Londres, 16.out.1975 - vários membros e
ex-membros do Deep Purple participam)
• New, Live and Rare (vídeos gravados
entre 1984 e 2000)
• Heavy Metal Pioneers (documentário
sobre a história da banda, 1991)
• Highway Star - A Journey in Rock
(documentário sobre a carreira de Ian Gillan, com depoimentos e cenas
exclusivas de ex-membros do Deep Purple)
• Phoenix Rising (Box que contém Gettin'
Tighter, documentário sobre a fase MK IV da banda e que também inclui a versão
remasterizada de Rises Over Japan. Lançado em 2011)
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