Heavy metal
O heavy metal
(muitas vezes referido apenas como metal) é um gênero do rock que se
desenvolveu no fim da década de 1960 e no início da década de 1970, em grande
parte, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Tendo como raízes o blues-rock e o
rock psicodélico, as bandas que criaram o gênero desenvolveram um espesso,
maciço som, caracterizada por altas distorções amplificadas, prolongados solos
de guitarra e batidas enfáticas. O Allmusic afirma que "de todos os
formatos do rock 'n' roll, o heavy metal é a forma mais extrema, em termos de
volume, e teatralidade".
As primeiras
bandas de heavy metal como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple atraíam
grandes audiências, um atributo comum em toda a história do gênero. Em meados
da década de 1970, o Judas Priest ajudou a impulsionar a evolução do gênero
suprimindo muito da influência do blues presente na primeira geração do metal
britânico; o Motörhead introduziu agressividade e fúria nos vocais, influência
do punk rock, e uma crescente ênfase na velocidade. Bandas do "New Wave of
British Heavy Metal" como Iron Maiden seguiram a mesma linha. Antes do
final da década, o heavy metal tinha atraído uma sequência de fãs no mundo
inteiro conhecido como "metalheads" ou "headbangers" e
também como "metaleiros" em países de idioma português.
Na década de 1980,
o glam metal se tornou uma grande força comercial com grupos como Mötley Crüe.
O Underground produziu uma série de cenas mais extremas e estilos agressivos: o
thrash metal invadiu o cenário com bandas como Anthrax, Megadeth, Metallica e
Slayer, enquanto outros estilos como o death metal e o black metal permaneceram
como fenômenos da subcultura do metal. Nos anos 1980, ainda foi criado o power
metal, com bandas como Helloween e Blind Guardian.
Desde meados da
década de 1990, populares estilos como alternative metal e suas vertentes mais
famosas: industrial metal, rap metal e nu metal, muitas vezes incorporam
elementos do hip hop e funk. Já o metalcore, que combina hardcore punk com
metal extremo, tem alargado ainda mais a definição do gênero.
Características
O heavy metal se
caracteriza tradicionalmente por guitarras altas e distorcidas, ritmos
enfáticos, um som de baixo-e-bateria denso e vocais vigorosos. Os subgêneros do
metal tradicionalmente enfatizam, alteram ou omitem um ou mais destes
atributos. Segundo o crítico do New York Times Jon Pareles, "na taxonomia
da música popular, o heavy metal é a principal subespécie do hard rock - o tipo
com menos síncope, menos blues, com mais ênfase no espetáculo e mais força
bruta. A típica formação da banda inclui um baterista, um baixista, um
guitarrista base, um guitarrista solo e um cantor, que pode ou não também tocar
algum dos instrumentos. Teclados são por vezes usados para enriquecer o corpo
do som; as primeiras bandas de heavy metal costumavam usar um órgão Hammond,
enquanto sintetizadores se tornaram mais comuns posteriormente.
A guitarra
elétrica e o poder sônico que ela projeta através dos amplificadores foi,
historicamente, o elemento chave do heavy metal. As guitarras frequentemente
são tocadas com pedais de distorção, por meio de amplificadores de tubo com
bastante overdrive, criando um som espesso, poderoso e "pesado". Um
elemento central do heavy metal é o solo de guitarra, uma forma de cadenza. À
medida que o gênero se desenvolveu, solos e riffs mais sofisticados e complexos
tornaram-se parte integral do estilo. Guitarristas usam técnicas como
sweep-picking e tapping para tocar com mais velocidade, e diversos estilos do
metal enfatizam demonstrações de virtuosismo. Algumas bandas influentes do
gênero, como Judas Priest e Iron Maiden, têm dois ou até mesmo três
guitarristas que partilham tanto a guitarra base quanto a solo. Uma característica
importante é o uso de escalas pentatônicas, exemplificado em bandas como Led
Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath.
O papel principal
da guitarra no heavy metal frequentemente colide com o papel tradicional de
líder da banda (bandleader) do vocalista, o que cria uma tensão musical à
medida que os dois "disputam pela dominância" num espírito de
"rivalidade afetuosa". O heavy metal "exige a subordinação da
voz" ao som geral da banda. Refletindo as raízes do metal na contracultura
da década de 1960, uma "demonstração explícita de emoção" é exigida
dos vocais, como sinal de autenticidade. O crítico Simon Frith alega que o
"tom de voz" do cantor do metal é mais importante do que as letras.
Os vocais do metal variam enormemente de acordo com o estilo, do enfoque
teatral, abrangendo múltiplas oitavas, de Rob Halford, do Judas Priest, e Bruce
Dickinson, do Iron Maiden, até o estilo rouco de Lemmy, do Motörhead, e James
Hetfield, do Metallica, chegando até ao urro gutural de diversos vocalistas de
death metal.
O papel de relevo
do baixo também é crucial para o som do metal, e o intercâmbio entre o baixo e
a guitarra formam um elemento central do estilo. O baixo fornece o som grave
necessário para tornar a música "pesada". As linhas de baixo do metal
variam enormemente em termos de complexidade, desde a manutenção de um simples
ponto pedal grave até servir como "alicerce" para os guitarristas,
dobrando riffs e licks complexos juntamente com as guitarras base e/ou ritmo.
Algumas bandas contam com o baixo como um instrumento solo, um enfoque
popularizado pelo baixista Cliff Burton, do Metallica, no início da década de
1980.
Ritmo e tempo
O ritmo nas
canções de metal é enfático, com acentuações intencionais. A ampla gama de
efeitos sonoros disponíveis para os bateristas do metal permite que os padrões
rítmicos utilizados assumam grande complexidade e mantenham a sua insistência e
potência elementares. Em boa parte das canções do estilo a levada principal
caracteriza-se por figuras rítmicas curtas, de duas ou três notas - geralmente
compostas de colcheias ou semicolcheias. Estas figuras rítmicas costumam ser
executadas com ataques em staccato, criados através da técnica conhecida como
palm muting, na guitarra base.
Harmonia
Uma das marcas
registradas do estilo é uma forma de acorde tocada na guitarra, e conhecida
como power chord. Em termos técnicos, o power chord é relativamente simples:
envolve apenas um único intervalo principal, geralmente a quinta perfeita,
embora uma oitava possa ser acrescentada para dobrar a raiz. Embora o intervalo
da quinta perfeita seja a base mais comum para o power chord, estes acordes
também podem ser baseados em intervalos diferentes, como a terça menor, a terça
maior, a quarta perfeita, a quinta diminuta ou a sexta menor. A maior parte dos
power chords também é tocada com base numa disposição dos dedos que pode ser
facilmente deslocada por todo a extensão do braço.
O heavy metal
costuma estar fundamentado em riffs criados com os três principais traços
harmônicos: escalas em progressões modais, trítonos e progressões cromáticas,
além do uso de pontos pedais. O heavy metal tradicional tende a empregar
escalas modais, em especial os modos frígio e eólio. Harmonicamente, isto
significa que o estilo costuma incorporar progressões de acordes modais, como
as progressões eólias I-VI-VII, I-VII-(VI) ou I-VI-IV-VII e as progressões
frígias que implicam a relação entre I e ♭II (I-♭II-I, I-♭II-III, ou I-♭II-VII, por exemplo). Relações cromáticas ou
de trítonos, de sonoridade tensa, são usadas em diversas progressões de acordes
do metal. O trítono, um intervalo musical que abrange três tons inteiros - como
dó e fá sustenido — era uma dissonância proibida no canto eclesiástico
medieval, que fez com que os monges o chamassem de diabolus in música—"o
diabo na música", em latim.Devido a esta associação simbólica original, o
intervalo passou a ser visto na convenção cultural do Ocidente como
"mau". O heavy metal usou extensivamente o trítono em seus solos e
riffs de guitarra, dos quais um dos exemplos mais notórios é o início da canção
"Black Sabbath", da banda homônima.
As canções de
gênero fazem uso frequente do ponto pedal como base harmônica. Um ponto pedal é
um tom que é sustentado, tipicamente por um instrumento grave, durante o qual
pelo menos uma harmonia "estranha" (ou seja, dissonante) é tocada
pelos outros instrumentos.
Imagem e
vestimenta
Kiss e sua famosa
maquiagem em apresentação, foto de 2004.
Tal como acontece
em muitos gêneros populares, a imagem visual possui uma grande importância no
heavy metal. Além das canções, a "imagem" de uma banda de heavy metal
é expressa na artes da capa dos álbuns, logotipos, cenários nas apresentações,
roupas e videoclipes. Várias bandas de heavy metal como Alice Cooper, Kiss,
Lordi, Slipknot e Gwar, tornam-se conhecidas, além de por sua música, por suas
personas e papéis no palco.
O uso de cabelos
longos, de acordo com Weinstein, é a "característica de distinção mais
importante da moda metal." Originalmente adotado pela subcultura hippie,
os cabelos usados nas década de 1980 e 1990 "simbolizavam o ódio, angústia
e desencanto de uma geração que nunca se sentiu em casa." de acordo com o
jornalista Nader Rahman. O cabelo comprido dava aos membros da comunidade do
metal "o poder de que precisavam para se rebelar contra nada em
geral."
O uniforme
clássico dos fãs de heavy metal consiste de "jeans azul, camisas pretas,
botas de couro preto ou jaquetas jeans... camisetas são geralmente estampadas
com logotipos ou outras representações visuais de suas bandas de metal
favoritas"
Na década de 1980,
a moda metal foi influenciada por uma série de fontes, do punk, gótico e filmes
de terror. Várias apresentações de heavy metal nas décadas de 1970 e 1980
usavam instrumentos com formas diferentes e cores brilhantes para melhorar a
sua aparência no palco. A moda e estilo foi especialmente importante para as
bandas de glam metal da época, que usava cabelos longos e tingidos, maquiagem,
roupas espalhafatosas, incluindo pele de leopardo, jeans e calças de couro
apertadas; e acessórios como tiaras e jóias. Pioneiros no heavy metal japonês,
o X Japan utiliza um visual conhecido como visual kei, que inclui trajes, cabelo
e maquiagem elaborados.
História
Antecedentes: fim
dos anos 1950 e meados da década de 1960
Enquanto o estilo
de guitarra típico do heavy metal, construído em torno de riffs e acordes
pesados e distorcidos, pode ter suas origens encontradas nos instrumentais do
americano Link Wray, no fim da década de 1950, a linhagem direta do gênero se
inicia no meio da década seguinte. O blues americano se tornou uma grande
influência para os primeiros músicos do gênero na Grã-Bretanha, e bandas como
Rolling Stones e The Yardbirds deenvolveram o blues-rock, gravando covers de
muitas canções clássicas do blues, frequentemente acelerando seus andamentos. À
medida que experimentavam com a música, estas bandas britânicas influenciadas
pelo blues - e as bandas americanas que elas influenciavam, por consequência -
desenvolveram o que se tornaria posteriormente a marca registrada do heavy
metal, em especial o som alto e distorcido da guitarra. O Kinks desempenhou um
papel crucial ao popularizar este som em seu hit de 1964, "You Really Got
Me."
Uma contribuição
significante para este som emergente nas guitarras era a microfonia, fenômeno
facilitado por uma nova geração de amplificadores que surgia. Além de Dave
Davies, do Kinks, outros guitarristas, como Pete Townshend (The Who) e Jeff
Beck (Tridents), experimentavam com a microfonia. Enquanto o estilo de bateria
do blues-rock consistia, na maior parte das bandas, de batidas simples,
shuffle, em kits pequenos, os bateristas passaram a usar gradualmente técnicas
mais vigorosas, complexas e amplificadas, para se equiparar e poder ser ouvido
diante do som cada vez mais alto da guitarra. Os vocalistas passaram também a
modificar, da mesma maneira, sua técnica, aumentando sua dependência na
amplificação, e muitas vezes tornando sua performance mais estilizada e
dramática. Em termos de volume, especialmente nas apresentações ao vivo, a
postura da banda britânica The Who e sua "parede de Marshalls" foi
seminal. Avanços simultâneos na amplificação e na tecnologia de gravação
tornaram possível capturar com sucesso em disco o peso deste novo enfoque que
surgia.
A combinação do
blues-rock com o rock psicodélico formou boa parte da base original do heavy
metal. Uma das bandas mais influentes nesta fusão de gêneros foi o power trio
Cream, que formou um som característico, pesado e maciço, através de riffs em
uníssono tocados pelo guitarrista Eric Clapton e o baixista Jack Bruce, bem
como o uso extensivo dos bumbos de Ginger Baker. Seus dois primeiros LPs, Fresh
Cream (1966) e Disraeli Gears (1967), são tidos como protótipos essenciais do
futuro estilo. O álbum de estreia do Jimi Hendrix Experience, Are You
Experienced (1967), também foi extremamente influente. A técnica virtuosística
de Hendrix seria emulada por muitos guitarristas do metal, e o single de maior
sucesso do álbum, "Purple Haze", é identificado por muitos como o
primeiro hit do gênero. As bandas de acid rock, uma vertente do rock
psicodélico, ajudaram a definir o heavy metal; e as bandas do gênero que não
deixaram de existir acabaram por se tornar bandas de heavy metal, como o Blue
Cheer e o Steppenwolf.
Origens: fim da
década de 1960 e início da década de 1970
Em 1968 o som que
se tornaria conhecido como heavy metal começou a coalescer. Em janeiro daquele
ano Blue Cheer, uma banda de San Francisco, Califórnia, lançou um cover do
clássico de Eddie Cochran, "Summertime Blues", retirado de seu álbum
de estreia, Vincebus Eruptum - canção que muitos consideram a primeira gravação
legítima de heavy metal. Naquele mesmo mês outra banda americana, Steppenwolf,
lançou seu álbum de estreia, que continha o clássico "Born to Be
Wild", cuja letra se refere ao termo "heavy metal". Em julho
daquele ano duas outras gravações que marcaram época foram lançadas: "Think
About It", dos Yardbirds - lado B do último single da banda - com uma
performance do guitarrista Jimmy Page que antecipou o estilo de metal que lhe
tornaria famoso; e In-A-Gadda-Da-Vida, do Iron Butterfly, com sua faixa-título
de 17 minutos, um dos principais concorrentes pelo título de primeiro álbum de
heavy metal. Em agosto, a versão single de "Revolution", dos Beatles,
com sua bateria e guitarra reverberantes, levou estes novos padrões de
distorção a um contexto de alta vendagem.
O termo
"retro-metal" é aplicado a bandas como os australianos do Wolfmother
e Airbourne. O álbum autointitulado de estréia lançado em 2005 da banda
Wolfmother possuí elementos claramente inspirados em bandas como Deep Purple e
Led Zeppelin. A canção "Woman", faixa do álbum, ganhou o prêmio Best
Hard Rock Performance do 49º Grammy Awards em 2007. No mesmo ano, o Slayer
venceu o prêmio de Best Metal Performance com Eyes of the Insane e no ano
seguinte venceu novamente com "Final Six". O Metallica ganhou o
prêmio em 2009, com "My Apocalypse". Outros desenvolvimentos recentes
do mundo do metal são o ressurgimento da cena thrash metal e o surgimento de
uma nova cena emergente, denominada 'djent'.
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